Brasil tem mais de 200 mil veículos blindados; proteção para carros de passeio custa cerca de R$ 60 mil e pode chegar a R$ 1 milhão para caminhões
Fonte: Revista CNT (PG 68)
A inda que pareça um mercado distante de muitos brasileiros, a blindagem de veículos é uma realidade por aqui. O Brasil é líder mundial na contratação do serviço, com uma frota total de 200 mil automóveis de passeio blindados (média de 17 mil carros por ano), sendo 70% desse volume somente no estado de São Paulo. Os dados são da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem). Segundo a entidade, o nicho onde a blindagem prevalece é o de automóveis, mas outros setores, como o rodoviário de cargas, também vêm adotando a tecnologia em larga escala. O foco dos que optam pela blindagem é a segurança. Com o crescente aumento do número de assaltos e de roubos de cargas em todo o país, empresários, altos executivos, autoridades, políticos e artistas vêm fazendo da tecnologia uma regra, mesmo com o alto valor desembolsado: R$ 60 mil, em média, por veículo. Para caminhões, a blindagem pode chegar a R$ 1 milhão. “A tecnologia se tornou muito importante nos últimos dez anos em decorrência da violência no país. Por isso, passou a ser uma necessidade. Antigamente, apenas milionários optavam pela blindagem. Hoje, muita gente deixa de comprar algo em casa para proteger seus veículos”, avalia o sócio proprietário da BSS Serviços de Blindagem Ltda., Mário Brandizzi. Inúmeras regras devem ser seguidas por aqueles que desejam blindar um veículo. O Exército é responsável por regular e fiscalizar essa medida. Todas as normas estão por EVIE GONÇALVES previstas na portaria nº 55 da corporação, atualizada em junho do ano passado. Trata-se da principal regulação sobre blindagem balística no país e dispõe sobre procedimentos para fabricação, importação, exportação, comércio, locação e utilização dos veículos blindados. A portaria ainda fala da prestação do serviço em veículos, embarcações, aeronaves e estruturas arquitetônicas. Entre as regras, estão a obrigatoriedade de registro do veículo junto ao Exército, com validade de três anos.
A principal norma, porém, diz respeito ao nível de proteção autorizado para veículos convencionais. A exceção se dá para veículos das Forças Armadas, classificados como de uso restrito, que resistem até mesmo a disparos de metralhadora. Esse tipo de veículo é utilizado em exercícios operacionais para fins de adestramento da tropa, em missões de manutenção da paz coordenadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e em missões de garantia de lei e da ordem em território nacional. “A blindagem para veículos convencionais suporta disparos de qualquer arma de mão, automática ou não”, explica o presidente da Abrablin, Marcelo Christiansen. De acordo com a portaria do Exército, ela cobre tiros de armas com calibre igual ou inferior a 44 e a 9 FMJ. Segundo as regras da corporação, esse tipo de blindagem é autorizado a cerca de 250 empresas distribuídas em todo o país e passa por uma série de etapas. Na prática, a tecnologia é dividida entre blindagem opaca e transparente, sendo a primeira realizada na lataria e a última, nos vidros. Para que os veículos sejam blindados, todo o carro é desmontado, com exceção do motor, câmbio e painel. Inicialmente, os veículos recebem cerca de três camadas de vidro e uma de acrílico – que fica do lado interior do veículo. Cada camada é afixada com uma cola especial a uma temperatura que chega a 130°C. Em seguida, é iniciada a blindagem da lataria, feita com até 12 camadas de manta de aramida, espécie de tecido, que, em combinação com o aço inox laminado a frio, não enferruja e resiste balisticamente bem. Todo o processo leva cerca de 45 dias para ser concluído. Mesmo que o registro da blindagem seja válido apenas por três anos, a tecnologia, em si, dura um período maior. “Se dependêssemos da manta de aramida utilizada na lataria do veículo, a blindagem duraria o tempo de vida do automóvel. O problema são os vidros. Até pouco tempo atrás, a blindagem durava cerca de três anos por causa de um processo chamado de delamidação, que faz com que as camadas descolem naturalmente devido à exposição ao sol. De lá para cá, entretanto, os fabricantes melhoraram os processos, o que estendeu a durabilidade dos vidros para, em média, cinco anos”, explica Brandizzi.
Segundo ele, o Exército endureceu as regras de blindagem, no ano passado, proibindo a recolagem de vidros em caso de delamidação – processo que era autorizado até então. “As pessoas costumavam fazer isso quando precisavam vender o carro, porque ninguém iria comprar um automóvel com vidro danificado. Assim, o veículo ficava com a aparência saudável. Esse processo foi proibido, porque a medida era paliativa e não impedia outra delamidação. Agora, se houver algum problema, o proprietário do veículo tem que trocar o vidro inteiro”, ressalta.
Questionado se o mesmo veículo pode passar por novo processo completo de blindagem, Brandizzi acredita que a medida não é economicamente viável, porque os valores dos automóveis decrescem muito ao longo dos anos, ou seja, o proprietário teria que investir alta quantia na proteção e perderia dinheiro na venda. “O mais recomendável é usar o veículo com zelo e cuidado. Assim, a blindagem pode durar até oito anos, momento em que o cliente deverá comprar um novo carro.”
Transporte de cargas
Várias empresas do setor rodoviário de cargas vêm optando pela blindagem para garantir a segurança da carga transportada. Esse é o caso do Grupo Esquadra, com foco em transporte de valores. Todos os veículos da empresa são blindados para tentar evitar prejuízos com o material de alto valor agregado que vai dentro dos veículos, como dinheiro, obras de arte, joias e eletrônicos. O sócio-diretor comercial do grupo, Marcos Vinícius Ferreira, explica que, além da blindagem na cabine no veículo, todo o trajeto é feito com seguranças armados. Outra estratégia é o uso de material à base de polipropileno no interior da carroceria do veículo, onde a carga é transportada. Em caso de explosão, o material solta uma espuma grossa que protege a carga, mesmo se o veículo for atingido por armas de guerra. “Investimos muito, mas ainda não estamos livres de ataques no meio da estrada. Só neste ano, foram três tentativas”, lembra. Ele critica a legislação para transporte de valores, que só permite que os seguranças portem armas de calibres 38 e 12. “Enquanto os bandidos carregam fuzis e armas de guerra, geralmente roubados da polícia, nossa equipe tem armamento limitado por lei.
Após crise, setor retoma blindagens
Além de afetar fortemente o setor de venda de automóveis e de caminhões, a crise econômica, iniciada em 2014, também impactou as empresas de blindagem. Segundo o presidente da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), Marcelo Christiansen, a aquisição do serviço de blindagem está associada à venda de carros novos. Como a crise afetou em 40% a venda de carros premium, que custam acima de R$ 130 mil, a blindagem também foi impactada na mesma medida. “Neste ano, estamos em recuperação e acreditamos que, no atual momento, o índice é de apenas 20% de prejuízo em todo o país. Mas esperamos finalizar 2018 com o mercado plenamente recuperado”, acredita. A BSS Serviços de Blindagem Ltda. é um exemplo de empresa que começa a sentir os efeitos da recuperação. “A crise afetou muito a empresa. Em 2014, blindamos 1.600 carros. Em 2015, 1.500. Em 2016, 1.300. Neste ano, o número começou a subir e já estamos com 775 blindagens somente entre Janeiro e Junho. Foram os melhores quatro meses da nossa história. Acreditamos na retomada e no aumento da nossa participação no mercado”, avalia o sócio proprietário, Mário Brandizzi.